quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Carta à minha terra…

Sempre pensei, acreditei e continuo a acreditar que a solução para os problemas “sanvicentinos” está no seio da sua população. No meu entender São Vicente não é um problema, mas sim a solução de muitos problemas do nosso Cabo Verde. A maior parte dessas soluções estão aí a vista de todos, resta agora identifica-las, transforma-las e pô-las em prática em prol da ilha e do país. E é aqui que entra algo, que sempre esteve presente no dia-a-dia dos “mindelenses”, a Criatividade. Um país, uma ilha, uma cidade, ou uma nação que se pretende criativa (independente de fatores vários como o seu tamanho, o seu contexto histórico e socioeconómico), apresenta a meu ver três características principais para o seu desenvolvimento.
A primeira dessas características são as inovações, e não se trata apenas de inovações tecnológicas, mas também de inovações sociais, culturais, todas aquelas soluções para problemas ou ações implementadas para antecipar as oportunidades. Alguém afirmou outrora que São Vicente é por si só uma Agenda Cultural. Não discordo em nada, pelo contrário, mas para que essa agenda possa dar frutos é preciso trabalha-la de forma árdua e pacientemente esperar pelos seus frutos. Inovar sem perder o conceito genuíno dos “acontecimentos” que fazem parte dessa mesma Agenda é a Criatividade (uma nação criativa vive em permanente estado de inovação), posta em prática, coisa que nos últimos anos tem acontecido de forma esporádica na nossa ilha.
A segunda característica das nações criativas são as suas conexões nos seus mais diversos aspetos. Ora vejamos, nos países ou melhor dizendo nas médias e grandes cidades, para não falar nas grandes metrópoles o nosso mapa mental em relação às áreas da cidade das quais lembramos é muito reduzido se compararmos ao mapa administrativo da cidade em si. Os sítios que nos veem à mente são aquelas onde vivemos, onde os nossos amigos e familiares moram, onde estudamos ou trabalhamos. Todas as outras áreas nos passam em branco, e isso é exatamente o que tem acontecido com a população mindelense. As oportunidades estão lá, mas ninguém os consegue decifra-las porque as pessoas estão muito concentradas em outras coisas e na maioria coisas supérfluas que de uma forma ou de outra não irão trazer progresso, prosperidade e a tão desejada capacidade de criar emprego. Uma cidade criativa está conectada permanentemente com o seu passado e com o seu presente, por outras palavras, conhece a sua história e sabe que só assim conseguirá desenhar um futuro risonho, como é que um povo que se diz criativo consegue viver sem uma sala de cinema??, atividade que outrora inspirou muitas gerações “sanvicentinas” a irem a procura dos seus sonhos e que conseguiu manter vivo durante muito tempo o espírito criativo do cidadão mindelense.
A terceira e última característica é a cultura. A Cultura por tudo o que ela nos traz (identidade, sentimento comunitário, diversidade, etc.), cultura como um conjunto de setores de impacto económico (o nosso Carnaval, o Festival de Baía das Gatas, as festividades de São João, a nossa passagem de ano, etc.,etc.), cultura como agregadora de valor e setores tradicionais que irão favorecer a economia numa perspetiva criativa e, por fim, cultura como formadora de um ambiente favorável à inovação. Porque países como Espanha, como EUA, Brasil, África do Sul, Inglaterra, Áustria entre outros, costumam ter as suas cidades associadas à ideia de cidades criativas? Porque nesses países ou melhor dizendo nessas cidades (Barcelona, Nova Iorque, Berlim, Londres, etc.), abundam as inovações nas quais a cultura faz-se sentir em cada esquina.
A mensagem que quis passar com tudo isto foi a seguinte, assim como qualquer pessoa pode ser criativa, os países e as suas cidades, zonas ou bairros, também podem. Investir ou não nessa ideia depende, portanto, de investirmos no seu talento criativo, tanto individual como coletivo. Porém a Criatividade não se manifesta por combustão espontânea, nem cresce nas árvores, para que essa se transforme em inovação é preciso que primeiro vençamos alguns desafios como a educação por exemplo. Moldar o nosso futuro de acordo com o que queremos, dependa apenas de cada um de nós e da nossa capacidade de colocar em prática as nossas faculdades adquiridas ao longo da vida.
Para ti meu Mindelo, minha ilha, mas sobretudo para ti meu Cabo Verde.